Mas então o que é a verdade, senão tudo aquilo em que acreditamos com todas as nossas forças, até o fatídico momento em que não cremos mais?
As verdades mudam, e as vezes numa velocidade que não consigo acompanhar, pessoas que pareciam de verdade mostram que são verdadeiras mentiras, situações que pareciam reais se transformar em ilusão e sentimentos eternos desaparecem como num passe de mágica.
Justamente, por medo disso, tratei de despir meus sentimentos de poesia.
No entanto, as nossas situações, mesmo nuas de significado, mesmo ceticamente analisadas com a frieza de um cirurgião, teimavam em rabiscar sorrisos na minha cara.
Sorrisos que não saíam em água corrente.
Mesmo assim, tenho vivido ao pé da letra o ‘dia-após-o-outro’, jamais adornando os dias com os meus costumeiros exageros que conheço bem.
É difícil manter os pés no chão enquanto a mente voa.
Talvez o que me compete seja justamente diagnosticar a completa inexistência do romance, ou constatar que trata-se de um bobo conceito hipotético.
O que me amedronta. Porque talvez o que tenho buscado ao longo de toda uma vida eu nunca encontre.
Uma ideia que nos inspira, que nos motiva, que nos estufa o peito através de um brusco sopro do mais puro nada.
Uma isca que nós, mesmo após fisgados sucessivas vezes, seguimos mordendo, constantemente e com convicção.
E eu mordi mil vezes e vou morder outras duas mil, justamente por acreditar na ínfima chance de – somente por uma vez – aquilo tudo não ser uma mentira.
As piores mentiras são aquelas que parecem verdade.
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